Bocaça Linguaruda
Na estrada impávida
Criei memoriais
De bocaça linguaruda.
Se não houvesse silêncio
Não haveria falatório
Errado de ignorantes
Viventes no país da dívida.
Falsas palavras
De cunho desvairado,
Arredondadas pela incompetência
Dos dirigentes do poder
Corruptor de humanidade servil.
Nossa história neutra,
Esquecida nas estantes empoeiradas
De um dia pro outro
Entre demagogia e falsidade.
Importação de cultura até da lua.
Somos o fundo de quintal
Recebedor de lixo
De países desenvolvidos,
Desumanos e malditos.
Perdi coração,
Achei alucinação.
Quantitativamente não,
Não, vivo só ....
Na estrada impávida
Criei memoriais
De bocaça linguaruda
Na esquina um adolescente cheirando cola,
No outro lado da rua
Um anúncio ordenando: Beba Coca-Cola!
Na escola uma gangue de analfabetos ...
Moradores de cortiços atuais,
Frequentam cinemas emporcalhantes de morais.
Ocultadas nas casas familiares
Das cidades, lixeiras imóveis,
A educação borbulhante de soluções erradas.
Palavras de viciados
Confabulando tramoias
De contrabandos noturnos
Desmistificadores de educação paterna.
Terra do pacifismo demolidor de sistemas.
Perdi coração, achei alucinação.
Quantitativamente não,
Não, não vivo só ...
Na estrada impávida
Criei memoriais
De bocaça linguaruda.
A morbidez estonteante
De um cachaceiro
Falador de verdades
Desde que na vida bebeu,
Deixa-me embriagado pela autenticidade.
Diz-que-diz e não faz,
Acumula e não resolve.
Mas também foram vinte anos
Empobrecedores, opressores,
INÚTEIS.
Será realidade
As palavras esperançosas
Ditas em praça pública?
Espero só não precisarmos
Voltar ao ponto de origem ou de desgaste.
Maior que tudo
Que nada vale
Deus foi esquecido
Entre dinheiro e sexo ...
Tudo isto sem pé nem cabeça,
Tudo isto sem nexo.
Adoro-te Pai nosso,
Assim
Perdi coração
Achei alucinação
Quantitativamente não,
Não, não vivo só ...
... Em meio às injustiças.
Lutem! Venceremos ...?
Escrita em 30/08/85